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Condicionantes para o Desenvolvimento Social Sustentável

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Condicionantes para o Desenvolvimento Social Sustentável.

Na Situação Sustentável todas as famílias se auto-sustentariam em condições aceitáveis de bem estar com a renda de trabalho.  Pergunta-se:

Existiriam oportunidades de ocupação adequada para todas as famílias?

Da origem da questão.

No início da Revolução Industrial, no final do século XVIII o problema do Desenvolvimento Sustentável não existia.  A população européia era predominantemente rural.  Eram poucos os proprietários de terras na Europa e nas Américas.  Mesmo estes viviam em condições de conforto pouco invejáveis aos olhos de hoje.  Não existia iluminação elétrica, água corrente, esgoto sanitário, o aquecimento, quando existia era precário, a medicina e a odontologia eram rudimentares.  Os “empregados” viviam e trabalhavam em regime de servidão ou escravidão.  Esta cena se aplica às demais civilizações na China, Índia etc.  Os povos “nativos” viviam da natureza como sempre haviam vivido.

Condições de vida agrícola e pastoril de auto-subsistência e mesmo extrativista ainda existem hoje.  Mas os pequenos agricultores familiares na Europa Ocidental ou nos Estados Unidos / Canadá são pequenos empresários.  Gozam de todos os confortos urbanos e têm educação superior.  As condições de vida dos habitantes das grandes extensões de terra na Rússia e na Sibéria ou Mongólia podem ser algo mais rústicas, mas não há miséria nem analfabetismo.  A Revolução Industrial impulsionou o conforto, as condições de sobrevivência e a expectativa de vida de uma parte significativa da população da terra, mas não de todos.  A população global hoje está pouco acima de 7 bilhões de pessoas e ainda tende a aumentar.

Segmentos da população global.

Segmento “privilegiado”:  Um sexto dos seres humanos habita a Europa, os Estados Unidos / Canadá, o Japão, a Austrália, Coréia do Sul e Taiwan.  É hábito designar estas regiões e países de ricas e desenvolvidas.  Elas abrigam a maior parte da produção industrial e as inovações tecnológicas.  Grosso modo os riscos mais graves de perda de renda e de redução do consumo são amparados por redes institucionais de auxílio.  Assim se estabeleceu o “estado do bem-estar social”.  As populações são predominantemente urbanas, mas nos espaços rurais o conforto é comparável.  Considerando também as cidades prósperas como Cingapura e segmentos urbanos nos países considerados emergentes, este contingente compreende cerca de 20% da população global.  Portanto, uma parte considerável da população global atual vive incomparavelmente melhor que no início da Revolução Industrial.  Em termos proporcionais não é verdade que a pobreza tenha aumentado.

China e Índia:  China e Índia  abrigam cada um aproximadamente 18% da população global.  Eram e ainda são têm os maiores agregados de populações pobres e muito pobres.  Todavia a China já resgatou cerca de 700 milhões de pessoas da pobreza rural hereditária mediante um processo de industrialização e urbanização sem precedentes na história.  A globalização da produção industrial tem forte participação chinesa.  As condições de vida em geral continuam a ser duras embora o consumo esteja aumentando, como demonstra o mercado de automóveis.  Os custos ambientais ainda são extraordinários, tanto pela poluição atmosférica – pela geração com lignito – como pela poluição das águas.  A exportação gerou e financiou uma parte expressiva das oportunidades de trabalho.  No início do processo as remunerações foram muito baixas.  O aumento da renda estimula o mercado interno.  As taxas de crescimento do PIB têm diminuído para 7% a 8% ao ano, se bem que sobre uma base crescente.  Isto significa que o problema da pobreza na China ainda não está resolvido, mas está equacionado.  A China é o único país que pratica uma política de redução do crescimento da população.  A atuação da China corresponde a um imenso Projeto de Desenvolvimento Econômico e Social.

As taxas de crescimento da economia na Índia também têm sido respeitáveis, embora inferiores às da China:  Mantiveram-se entre 5% e 7% aa.  Ainda existe grande miséria rural e urbana, da mesma forma como nos países vizinhos Bangladesh e Paquistão.  A Índia não desenvolveu uma indústria para a exportação da mesma forma como a China, a Coréia do Sul, Taiwan e antes o Japão.  Por isso é previsível que as mudanças de condições de vida para grande parte da população continuem lentas, com a produção industrial orientada para o mercado interno.  Um intenso projeto de geração fotovoltaica deverá produzir melhoras nas condições de vida na área rural.  Adicionalmente, os países “ricos” poderiam apoiar o desenvolvimento das populações pobres do sul da Ásia através de pagamentos “mais adequados” para os produtos da base da pirâmide social.  A renda melhorada aumentaria o consumo induzindo um crescimento da produção e, portanto, da ocupação.

Segmento pobre e miserável:  O contingente muito pobre, miserável, sujeito a morte por subnutrição – fome – da população global é indicado na ordem de grandeza de 900 milhões de indivíduos, correspondentes a 12% da humanidade.  Não cabe aqui examinar a qualidade desta avaliação.  Neste contingente estão incluídos os mais necessitados no sul e no sudeste da Ásia, na África subsaariana e uma fração de pobres na América Latina.

Os demais cerca de 32%: Considerando as superposições, sobraria cerca de 32% da população global, que se classificaria como relativamente pobres vivendo em condições com substanciais necessidades de melhora.  São 2.2 bilhões de seres humanos.  Partes significativas da população de países árabes, da América Latina e da África estariam aí compreendidas.  Consideremos que os remanescentes de populações indígenas, os que vivem de caça, pesca e extrativismos, também pertencem a esta “base da pirâmide social global”.  Ao todo teríamos (12+32 =) 44% da população global em situação de carência, somando cerca de 3 bilhões de pessoas, ou 600 milhões de famílias de 5 membros.  É difícil imaginar como um número equivalente de ocupações adequadas, recompensadas adequadamente, possam ser criadas e mantidas apenas por desenvolvimentos difusos.

Conclusões.

Por mais que a globalização da produção, impulsionada pela dinâmica  da economia de mercado, tenha produzido desenvolvimentos sociais difusos, Projetos de Desenvolvimento Econômico e Social são imprescindíveis para realizar a Situação Social Sustentável.  Tais projetos são de Responsabilidade dos Estados, tenham as sociedades regimes de governo democrático ou autoritário.  Esta conclusão se aplica também ao Brasil.

 

 

 

Crescimento da Produção e do Consumo – do PIB global.

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Crescimento da Produção e do Consumo – do PIB – global.
Quanto precisa? Onde? Limites?

Introdução: Metas da política econômica.

Tradicionalmente, a “filosofia” da política econômica está voltada para o crescimento ilimitado da produção nacional. O motivo declarado é o atendimento das necessidades dos cidadãos, postuladas como infinitas. No século XIX e até três quartos do século XX este objetivo parecia válido mesmo para as sociedades – países – hoje classificadas como ricas ou desenvolvidas.

Deste período também data o conceito de “políticas econômicas anticíclicas”, que são orientadas a atenuar os sofrimentos causados pelos ciclos conjunturais na fase de depressão. Nessas circunstâncias os Estados devem interferir na economia de mercado para promover, melhor, possibilitar o consumo, mesmo que tenha de contrair dívidas resultantes de déficits orçamentários. Em tese, tais dívidas seriam ressarcidas na subseqüente fase de atividade econômica mais dinâmica pelos aumentos da receita pública.

Outro objetivo da política econômica, como consta nos compêndios, é a estabilidade do poder de compra da moeda nacional. A estabilidade do poder de compra favorece os planejamentos das atividades, particularmente os investimentos, e conserva o valor das poupanças. Também pelo menos reduz discussões e conflitos sociais. Dessa forma contribui para a produtividade da sociedade. A ideia do equilíbrio na economia aplica-se ainda ao objetivo de alto nível da ocupação da mão de obra e ao objetivo do equilíbrio da balança comercial. O crescimento da economia serviria para manter os equilíbrios diante dos efeitos do desenvolvimento demográfico e da redução da oferta de trabalho causado pelo desenvolvimento tecnológico.

Esta visão de metas se aplica a sociedades desenvolvidas. Sociedades pobres precisam aumentar a produção para atende às necessidades de consumo, de melhora do conforto, da população. Distinguem-se, portanto, duas situações de gestão econômica bastante diversa:

1. Economias sem contingentes numerosos de pobres e miseráveis.

Nas sociedades desenvolvidas é acertado zelar pelo equilíbrio fiscal e por baixo nível de dívidas. Os investimentos em estrutura necessários não são tão volumosos que não caibam nos orçamentos. Então na tendência os juros serão baixos, favorecendo tanto os investimentos, como a realização das metas de estabilidade. Um crescimento modesto do PIB é aceitável e mesmo “natural”. Algumas empresas tenderão a investir em outras regiões com mercados em expansão, onde também encontrarão mão de obra para a expansão de suas atividades. Este é um dos aspectos do fenômeno da “globalização da produção”. Nas sociedades que já estão bem supridas políticas de expansão da liquidez para incentivar o crescimento de economia terão efeitos pífios. A situação de “saturação de mercados” ainda precisa ser mais bem compreendida. Ela já existe no Japão, nos países escandinavos e outras partes da União Européia e dos Estados Unidos, Canadá e Austrália.

2. Economias com numerosos contingentes de pobres e miseráveis.

Nas sociedades onde existem significativos contingentes de pobres as políticas econômicas precisam visar o aumento da ocupação, da renda, do consumo, isto é, um crescimento significativo do PIB. A política de crescimento da produção não é “anticíclica” nem “de equilíbrio”. Todavia uma desvalorização do poder de compra da moeda – uma inflação – não ajudará na realização de metas e constitui um imposto disfarçado que atinge principalmente os cidadãos mais pobres. Há diversos recursos de política de crescimento econômico para prover ocupação na produção de contingentes na base pobre da pirâmide social, entre os quais constam:
– A “importação de indústrias” para suprirem o mercado potencial interno e para exportação, valendo-se de remunerações comparativamente mais baixas, falta de serviços sociais, baixos impostos, subsídios etc. Em parte a concorrência nos mercados das sociedades “ricas” tem estimulado a “exportação de ocupação”.
– O fomento de produção na base da pirâmide social mediante micro-créditos e remunerações adequadas pelos compradores (exemplos: produções agrícolas, “maquiadoras”, produção de vestiário).
Projetos de desenvolvimento econômico e social para numerosos contingentes da população, como executa a China.
– Impulsos iniciais de mitigação da pobreza através de subvenções ao consumo. Devem ser acompanhados de ofertas de trabalho para prevenir a conformação em situação de “mendicância habitual”.

Aspectos da cena global atual.

Sabe-se que a produção global de alimentos é suficiente para que não ocorra fome e subnutrição entre os sete bilhões de habitantes da Terra. Em algumas regiões faltam recursos para a aquisição de alimentos e a produção local é insuficiente; por outro lado ocorrem grandes perdas e desperdícios. Em princípio os alimentos básicos devem ser produzidos próximos aos consumidores. Mas há regiões grandes exportadoras de alimentos como os Estados Unidos, a Rússia, o Brasil, a Argentina e a Austrália.

A produção agrícola industrial oferece poucas oportunidades de trabalho. Assim sendo, não existem razões para a continuação de desflorestamentos. Efetivamente, já se observa na Europa uma recuperação de áreas florestais. Os acréscimos de produção necessários poderão ser supridos por aumentos de produtividade. A pegada ecológica global não precisará ser aumentada devido a questões de alimentação.

Na Situação Sustentável não existiriam contingentes de humanos vivendo em condições eticamente não aceitáveis. Como a meta do resgate da pobreza se aplica a contingentes humanos numerosos e a grandes extensões territoriais, há de se entender que esta tarefa não poderá ser desempenhada por organizações do mercado – empresas.  As contribuições dessas são limitadas por seus recursos e falta de autoridade, mesmo que sejam estimuladas por políticas oficiais.  Aos países “pobres” cabe, além de políticas que promovem desenvolvimentos difusos, desenvolverem projetos públicos de geração de ocupação e renda segundo o modelo de Desenvolvimento Econômico e Social praticado pela China. Tais projetos abrangem obras na infraestrutura física, na educação, no saneamento, na recomposição de biomas – em geral florestas – e no estabelecimento de produções para as quais existem naturais vantagens competitivas.

Conclusões.

Conclui-se, que o desenvolvimento econômico, o crescimento do PIB, de países que ainda abrigam significativos contingentes de humanos necessitados de melhoria nas condições de bem-estar não repetirá o desenvolvimento dos países já “ricos”, produzido exclusivamente pela economia liberal de mercado. A economia liberal de mercado produziu um bem-estar social nas sociedades desenvolvida como conseqüência surpreendente, não como objetivo planejado. Para acelerar o resgate de populações ainda pobres são necessárias hoje intervenções dos Estados tanto para atrair empresas, como para gerar ocupação diretamente. Os mercados internos se desenvolverão na medida em que os contingentes “desfavorecidos” forem ocupados – integrados na produção.  A indústria local e a distribuição se desenvolverão ao suprir os bens de consumo.  O crescimento da produção favorecerá o desenvolvimento dos serviços.

Aparentemente, ainda é preciso perceber melhor as diferenças de gestão econômica nas sociedades desenvolvidas, de um lado, e nas sociedades emergentes e subdesenvolvidas, de outro.

Todo o problema dos ajustes de bem-estar social e da pegada ecológica global, inclusive da preservação das espécies demanda ainda de um tratamento tão atencioso como o do problema das mudanças climáticas.