Sobre cidades na Situação Sustentável Parte II
Sobre cidades na Situação Sustentável. Parte II
– Critérios da adequação dos projetos de prédios.
Cerca de 40% da energia gerada é consumida nos prédios. Então a redução deste consumo é uma medida eficiente para a redução de emissões de GEE enquanto a energia for gerada por combustíveis fósseis. A energia é consumida na iluminação, nos eletrodomésticos e outros motores além de, e principalmente, para a calefação nos climas frio e temperado, ou refrigeração na região tropical.
O aumento da eficiência energética acontece de forma difusa em todos os lugares através do desenvolvimento tecnológico. Um dos exemplos mais percebidos é a substituição da iluminação por lâmpadas incandescentes por lâmpadas de tecnologia LED.
Melhoras no isolamento térmico das paredes e, sobretudo, das janelas representam investimentos na reforma de prédios existentes. Vários países adotaram políticas de incentivo para tais ações de atualização de prédios residenciais. Em consequência, registram-se recuos na importação de petróleo na Alemanha.
Nos países com clima quente a refrigeração ambiental é um grande consumidor de energia. Através da aplicação de recursos de projeto arquitetônico como alto pé direito, ventilação natural, regulação da incidência de raios solares, entre outros, a utilização de refrigeração artificial pode ser reduzida significativamente.
A geração distribuída por instalação de coletores solares fotovoltaicos nos telhados tem se popularizado de forma surpreendente mesmo em latitudes não tropicais. Com a queda ainda mais acentuada dos custos de instalação desta tecnologia, prognosticam-se avanços rápidos no crescimento da potência instalada, principalmente se a formação de redes inteligentes, que permitem vender excedentes de energia à rede pública.
Tornou-se hábito se referir a “prédios sustentáveis” na medida em os recursos de economia de energia e os recursos de aproveitamento da energia solar para aquecimento e geração de energia elétrica – além da economia de água – forem explorados. Seria possível criar para sítios urbanos de todo porte indicações como “matriz energética”, com indicação da geração local, e consumo de energia por habitante. Possivelmente, tais índices incentivariam tanto os investimentos privados e públicos, como o comportamento de utilização econômica da energia.
– Critérios para o abastecimento e o desabastecimento.
Água, energia, alimentação, aquecimento são requisitos imprescindíveis para a vida. A climatização do ar em prédios também pode ser.
As obras romanas de aquedutos e cloacas até hoje provocam administração. Grandes obras de engenharia foram executadas para abastecer as megalópoles de São Paulo e rio de Janeiro. Mas ainda não se sanaram as poluições do rio Tietê e da baía de Guanabara. Sem dúvida o problema se acentuou com a intensidade da urbanização. Mas os recursos técnicos não faltam. Os estados atuais dos rios Tamisa, Sena, Reno e Elbe que, embora ainda não perfeitos recuperam as faunas, demonstram o que é possível realizar. Além dos aspectos de saúde pública, o tratamento adequado dos efluentes é necessário para precaver a poluição dos lençóis freáticos e para possibilitar a recirculação da água. A impossibilidade do aproveitamento das águas do rio Tietê e afluentes para servir a cidade é um contrassenso.
Arranha-céus integram estacionamentos e pisos dedicados aos serviços de abastecimento de água, tratamento de esgotos, e outros. A alocação de estações de tratamento, eventualmente com aproveitamento dos gases seria uma tarefa particular no planejamento urbano. É possível que ainda existam espaços para a otimização de soluções para este problema de planejamento urbano.
O consumo de água por habitante depende de hábitos. Mas os desperdícios por vazamentos [mais de 35% em São Paulo contra 5% em Tóquio] e a extensão do tratamento de esgotos podem ser integrados aos critérios de avaliação das cidades.
Há critérios próprios para a alocação e a configuração de supermercados e shopping centers em função da densidade de potenciais clientes na redondeza e facilidades de acesso. Em parte considerável tais centros de interface com os consumidores deslocaram o comércio de lojas de rua. Também integram oportunidades de lazer como praças de consumo, restaurantes, cinemas e teatros. O abastecimento a partir de centros / armazéns posicionados na periferia contribui para a racionalização da logística. As redes de abastecimento desenvolvem-se espontaneamente, pelas forças do mercado. Não representa um tema importante para os urbanistas. Estes estariam mais preocupados com a conservação da imagem histórica de centros tradicionais.
Um critério significativo para a avaliação e centros urbanos de qualquer porte é a destinação de resíduos sólidos, seja orgânicos, seja inorgânicos. Em grande parte esta diferenciação ainda não é operada sistematicamente: Os resíduos são então depositados em “lixeiras”. Em alguns casos os gases resultantes da decomposição são aproveitados na geração de energia elétrica. A compostagem é uma técnica conhecida de longa data. [Uma vez consolidada a “cultura do descarte seletivo” centros descentralizados de compostagem poderiam ser planejados de forma a limitar as distâncias de transporte]. A combustão também. A redução dos resíduos sólidos inorgânicos por reciclagem ainda tem muito espaço de expansão – vidros, metais, papel, resíduos de obras e demolições. Neste sentido trata-se mais de um aspecto comportamental e de gestão e organização que de problema de urbanismo. Ainda assim haveria de ser integrado na avaliação de centros urbanos de alguma forma. A poluição atmosférica causada por resíduos sólidos alcança 5% do total de emissões de GEE no Brasil. Cidades poderiam ser avaliadas por emissões por habitante.
– Critérios relativos à oferta de serviços de educação, saúde e culturais?
Hoje todos os grandes centros urbanos abrigam uma estrutura de hospitais, hotéis e escolas de nível universitário. Alguns jardins botânicos e zoológicos são famosos. Há cidades menores que vivem em torno de universidades tradicionais, a exemplo de Coimbra, Oxford, Cambridge e Göttingen. É evidente que equipamentos de cultura como museus, teatros e bibliotecas enriquecem a atratividade turística de cidades e provêm oportunidades de formação e entretimento. Florença, Paris, London e München ilustram este quesito. Não se identifica uma medição para diferençar cidades com relação à Situação Sustentável através de suas ofertas científicas e culturais. O mesmo pode ser afirmado para a atratividade de prédios históricos.
– Critérios de “desenvolvimento” como PIB/h e IDH.
Os índices PIB por habitantes e de Desenvolvimento Humano expressariam algo sobre a riqueza e o bem-estar-comum na cidade.
As cidades oferecem oportunidades de ocupação e renda na indústria, nos serviços de educação e saúde ou nos transportes, no comércio, na construção civil, na administração pública, e assim por adiante, para todos os níveis de formação. Estas oportunidades e facilidades são a causa da evasão rural. Inicialmente, no século XIX a expectativa de sobrevivência, mesmo que em condições precárias, foi dada pela indústria. A industrialização e a construção civil causaram as grandes migrações dos “pau de arara” para São Paulo e Rio de Janeiro, entre outras cidades do Sudeste do Brasil, sem previsões para a acomodação. Mais recentemente na China megacidades industriais foram criadas para o resgate da pobreza rural de 600 milhões de pessoas. No ocidente hoje as pequenas cidades são os sítios preferenciais para o estabelecimento de instalações industriais.
No Brasil este afluxo causou a acentuação do fenômeno da formação de favelas / “slums” e pardieiros, que já ocorria desde a finalização da escravidão. Contingentes numerosos construíram e se abrigaram em construções precárias – “barracões de zinco”, palafitas etc.-, principalmente nas periferias e em zonas de risco nas encostas de morros e em várzeas alagáveis. Via de regra tais construções são clandestinas, mesmo depois de terem evoluído para obras de concreto e tijolos. Não dispõem, em geral, de saneamento básico. Frequentemente a energia elétrica é furtada. O saneamento urbano, ou “desfavelização”, é um problema público vinculado à superação da pobreza. Construções “sociais” foram e são parte de políticas públicas em muitos países. Uma valorização de deficiências habitacionais deve integrar a avaliação de centros urbanos. [Exemplo: Parcela de habitantes moradores em favelas].
Possível utilidade de uma comparação de cidades.
Como ficou demonstrado, ainda que de forma explorativa, é possível desenvolver um sistema de avaliação objetiva da qualidade de uma região urbana em vista a uma futura Situação Sustentável. O levantamento dos dados e a sua publicação periódica permitiriam o monitoramento pelos cidadãos do ambiente em que habitam.
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