Pobreza Rural e Pobreza Urbana no Brasil – Parte II: Pobreza Urbana
Pobreza rural e Pobreza urbana no Brasil. Parte II “Quem gosta de pobreza é intelectual” Joãozinho Trinta – carnavalesco carioca
Preâmbulo.
A palavra do carnavalesco encerra uma verdade: É fácil escrever matérias, livros, peças e proferir discursos acadêmicos – ou de campanha eleitoral – sobre a pobreza.
Com justa razão, motivos éticos, a eliminação dos sofrimentos da pobreza foi objeto de programas da Organização das Nações Unidas através do programa das Metas do Milênio (MDM) e agora é dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS / SDG). Obtiveram-se sucessos: A parcela dos muito pobres no mundo foi reduzida, doenças foram reduzidas, os Índices do Desenvolvimento Humano – IDH -, levantado anualmente pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – melhoraram. Parece que um longo trajeto ainda precisa se percorrido no Desenvolvimento para alcançar uma Situação Social Sustentável.
Aqui se procurará detectar possíveis medidas práticas que permitiriam acelerar este desenvolvimento no Brasil.
Erradicação da pobreza urbana.
A pobreza urbana é tema recorrente desde a industrialização impulsionada pela Revolução Industrial, inicialmente na Inglaterra e depois em outros países na Europa. Simultaneamente a mecanização do trabalho no campo eliminou oportunidades de sustento nas fazendas e forçou populações rurais a procurar ocupação e renda nas fábricas, situadas nas aglomerações urbanas, que então se expandiram desordenadamente. Historicamente, a pobreza, particularmente a pobreza urbana, foi superada pelo aumento da produtividade, tanto industrial, como agropecuária, ensejada pela Revolução Industrial: Aumentaram as rendas – salários e benefícios sociais – e reduziram-se continuamente os preços dos produtos consumidos.
Nas sociedades hoje classificadas como desenvolvidas uma parte majoritária da população goza de conforto antes reservado aos estratos dominantes. São proprietários dos imóveis que habitam e são equipados com eletrodomésticos e aparelhos de comunicação digitais, são proprietários de veículos, gozam de férias anuais, os filhos frequentam escolas de qualidade, dispõem de eventos e instituições culturais, provisionam economias para a aposentadoria etc. Compõem o que se convenciona chamar de classe média. Diferencia-se, segundo níveis de renda entre classe média baixa, classe média média e classe média alta. Há ainda os ricos e muito ricos que corresponderiam aos antigos nobres latifundiários. Em sociedades com valores de IDH muito altos, acima de 0,9, não ocorre pobreza grave nem rural, nem urbana. Adota-se como limite entre pobreza e classe média baixa a Renda Adequada, cujo valor deve ser determinado para cada sociedade.
No Brasil a migração da zona rural para as cidades se acentuou na segunda metade dos anos 1950, quando foi estimulada pela construção de Brasília e pela industrialização na região Sudeste e pelo surto de construção civil em São Paulo e Rio de Janeiro entre outras cidades. Os migrantes ficaram conhecidos como “candangos”, no caso de Brasília, e “paus-de-arara” de maneira geral. Em numerosos casos o sonho de encontrar trabalho e “melhorar de vida” foi realizado. Então a ascensão social ocorreu. Mas nem todos tiveram esta felicidade. De qualquer forma lograram “morar perto do asfalto” com melhor acesso a serviços sociais. O IDH aumentou de baixo para alto desde 1950.
A acomodação ocorreu de forma desordenada. Cresceram e multiplicaram-se as aglomerações de casebres conhecidas como “favelas”, que já existiam antes. As favelas ocuparam áreas frágeis como encostas de morros, várzeas inundáveis, espaços vagos a exemplo de abaixo de viadutos entre outros. Não contavam com suprimento de água encanada, saneamento, coleta de lixo e energia elétrica. Frequentemente se recorreu a soluções clandestinas. Ainda que algumas favelas tenham evoluído com construções mais sólidas e estrutura, o atendimento com serviços de educação, saúde e segurança em geral continua sendo precário. Este desenvolvimento ocorreu à revelia de vontades públicas ou empresariais, da mesma forma como ocorrera antes nas sociedades da Revolução Industrial.
No nível de urbanização atingida na ordem de 80% e tendendo a população a estagnar, se não a ensaiar uma redução, a migração para as cidades e o crescimento das favelas deve ter terminado. Antes se constatam tendências ao regresso às regiões de origem em virtude do desenvolvimento econômico na região Nordeste. Entretanto, a criação de oportunidades de trabalho na economia formal, ou seja, o crescimento da economia é o principal recurso para superar a pobreza como um todo e principalmente a pobreza urbana.
De fato o desemprego, o desemprego disfarçado e o emprego de baixíssima produtividade estão escancarados à vista para quem percorre as ruas das cidades.
Quais são as atuais possibilidades e tendências para o aumento da produção nacional e da ocupação? Desconsiderando os problemas políticos e econômicos circunstancias – 2016 -, anotam-se:
- Projetos de Desenvolvimento Sustentável nas regiões mais carentes, como indicados para a superação da pobreza rural e na floresta, aumentariam o consumo e, indiretamente a produção nas indústrias e nos serviços, além da arrecadação de impostos. Esta possibilidade ainda não foi cogitada.
- O estímulo à geração eólica e ao aproveitamento da energia solar como fonte distribuída de energia elétrica e para aquecimento, criaria ocupações fabris e de serviços novas em prazo razoavelmente curto.
- O estímulo à coprodução de açúcar, etanol e energia elétrica criaria empregos justamente na região com maior industrialização e população do país.
- O mercado interno deverá ser protegido de importações subsidiadas nos países de origem, como pratica a China.
- Empenho de redução dos problemas conhecidos como “custo Brasil”.
- Empenho por exportação de produtos beneficiados em lugar de matéria prima.
Os serviços se expandirão na medida do aumento da capacidade de consumo resultante das atividades industriais, de obras públicas e dos Projetos Regionais de Desenvolvimento.
Também há tendências contrárias. O desenvolvimento tecnológico continua a reduzir as oportunidades de trabalho na indústria, na construção civil e mesmo na agricultura. O mercado de petróleo entra em decadência, deixando ameaçada a Petrobrás e seus empregos. Os mercados de matérias primas minerais “convencionais” tendem à saturação.
Conclusão.
Com base na cena atual – 2016 – de pobreza e ocupação no Brasil e considerando as possibilidades de criação de oportunidades de trabalho e renda lembradas, é razoável estimar que num prazo de dez anos a pobreza aguda e a pobreza, que atingem 96 milhões de cidadãos, podem ser superadas de forma sustentável, o que significa “sem recurso a subsídios de consumo na forma de Bolsas”, desde que os Poderes Públicos promovam Políticas e Projetos para o Desenvolvimento Sustentável. Isto significa que adotarão ações focadas na ocupação da base da pirâmide social. Os “mercados”, ou seja, a iniciativa privada não está condicionada a resgatar grandes contingentes de cidadãos da pobreza, mas contribuirá na medida da provisão de oportunidades pelo Governo / Estado.
Na pirâmide social do Brasil então ainda haverá “relativamente pobres”. Mas um contingente significativo terá alcançado uma renda familiar igual ou superior à Renda Adequada, ingressando na classe média baixa. Este quadro poderá ser considerado ‘eticamente aceitável’.
Aqui os procedimentos foram formulados antes de metas de crescimento abstratas, comuns nas projeções de economistas. Apenas com um aumento do consumo do contingente pobre de 50% teríamos no prazo de 10 anos, seguramente um aumento da renda média e do PIB em 30% a 40%, apenas com o crescimento do mercado interno. Todavia tal resultado não será atingido apenas via políticas financistas, monetárias, cambiais, fiscais etc. com que se pretendem estimular desenvolvimentos / crescimentos econômicos difusos.
Deixe um comentário