Divagações sobre Paz. Parte IV: Percepções, Soluções possíveis, Cultura da Paz.

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Parte VI:  Percepções e circunstâncias atuais (2015)                                                                         Soluções possíveis de conflitos                                                                                               Cultura de Paz na Situação Sustentável.

 Experiências históricas que contribuem para as percepções atuais.

Estão ainda na memória ou as memórias podem ser facilmente renovadas pelo cinema e pela televisão as Guerras causadas por ambições imperialistas de governos e de contingentes apoiadores:

–   A Primeira Guerra Mundial, com massacres de dimensões antes inimagináveis.

–   A Guerra do Pacífico / Japão que terminou com as duas primeiras experiências – até agora não repetidas – do emprego de armas nucleares

–   A Segunda Guerra Mundial, consequência da Primeira e da loucura autoritária e criminosa do nazismo, com massacres propositais de populações civis.

A Organização das Nações Unidas – ONU – foi fundada com o objetivo de evitar novas guerras

Configurou-se a União Europeia – EU – com um parlamento sediado em Bruxelas / Bélgica, através de um processo de aproximação.

–   A Guerra do Vietnam terminou pela oposição da sociedade civil dos Estados Unidos.

–   A Guerra Fria entre os Estados Unidos com aliados e a União Soviética foi terminada com o desmoronamento da economia de comando centralizado da US sem confrontação armada devido ao terror de guerra nuclear.  Em tese uma aplicação da recomendação de Sun Tzu.

–   A Segunda Guerra do Golfo Pérsico foi causada pela invasão e anexação do Kweit pelo Irak, governado pelo um tirano Saddam Houssein.

–   O conflito do Kosovo, na ex-Jugoslávia, foi terminado por intervenção de forças da ONU.

Perdura o problema do reconhecimento de Israel por governos de países com religião muçulmana.

Surgiu o Terrorismo como recurso violento em conflitos, praticado por muçulmanos:  Chega à a aberração do suicídio-assassino.

–  O revide ao atentado às torres do Word Trade Center em New York e ao Pentagon em 11.09.2001 originou:

–  Uma Terceira Guerra do Golfo Pérsico – invasão do Iraque pelos Estados Unidos e alguns aliados, com liquidação de Hassam Hussein

–  Uma intervenção/invasão do Afeganistão para combate a terroristas e caça a Osama Bin Laden, posteriormente liquidado no Paquistão.

Uma surpreendente sublevação popular contra regimes autoritários/tiranos no Egito, na Líbia e na Tunísia conhecida por “Primavera Árabe”.  Estes levantes foram facilitados pelas ‘redes sociais’ nos telefones celulares.

Terminou o “regime de apartheid” de segregação repressão racial na África do Sul.  Mas continuam conflitos na Nigéria, no Mali e no Sudão.

–   O presente conflito generalizado na Síria e no Irak, que serviu de referência a estas considerações (vide Parte I)

 

Perspectivas favorecedoras do desenvolvimento de um Paz global duradoura.

Diante desta sequencia ininterrupta de conflitos armados de diferentes escalas, parece uma ousadia imaginar o estabelecimento de um ambiente global pacífico.  Todavia podem-se identificar tendências favorecedoras, válidas em si, mas reforçando-se reflexivamente e mais fortes em conjunto.  Assim se configuram um desenvolvimento difuso para Paz global:                                                                                                                                                        –  Autodeterminação dos povos consagrada.  As políticas de expansão – ou manutenção – imperialista estão condenadas na percepção global.  Sanções econômicas à Rússia pela ocupação da Criméia e atuação militar no leste da Ucrânia.                                                         –  Fim da dependência do Petróleo.                                                                                                    –  Fim das ideologias de organização de sociedades como comunismo e fascismo.                 –  Exemplo – benchmark – União Europeia para a configuração de federações. (Veja acima Kant)                                                                                                                                                         –  Aumento da parcela do contingente com instrução nas sociedades, inclusive dos “Trabalhadores com Conhecimento” – ícone formulado por Peter Drucker em “Post-capitalist Society” (1993) – e dos Cidadãos por Responsabilidade [veja “Como Acelerar o Desenvolvimento Sustentável” de Harald Hellmuth (2012)].                                                       –  Cooperação Global na Solução para o problema da pobreza – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. (PNUD)                                                                   –  Cooperação Global pelas Contribuições para a redução das emissões de GEE. (PNUMA) –  [Expectativa da]  Cooperação na acolhida de fugitivos de guerra / Responsabilidade por humanos estrangeiros; inserção de misericórdia nas percepções políticas.                               – Participação das Sociedades na política e nas decisões  Regimes de Governo Democráticos estão em expansão.  Maiores contingentes de cidadãos com nível de instrução elevado.  Aversão crescente de sociedades a engajamentos bélicos.                          – Evolui a percepção da interdependência dos países na economia globalizada.  Experiência da crise econômica global causada por ilicitudes financeiras nos Estados Unidos.  Experiência do efeito da capacidade de exportação e importação da China em diversas economias.  Configuração de acordos econômicos na área do Oceano Pacífico e Oceano Atlântico Norte – Estados Unidos e União Europeia.                                                       –  Internet – Facilidade e velocidade da comunicação.                                                                    – Discussão progressivamente mais objetiva e generalizada dos problemas – sociais, econômicos, ambientais e da gestão democrática – na mídia.                                                      –  A ONU como foro para a discussão – negociação – dos conflitos.

Progressivamente, todos estes “elementos da mudança” impregnam a consciência dos participantes em decisões políticas.

 

Conflitos atuais e possíveis acomodações numa visão de futuro pacifico.

De uma maneira geral, os conflitos, embora localizados, irradiam influências sobre a o ambiente global e muitos são imbricados.  Alguns requerem, além de vontades esclarecidas, quebras de paradigmas culturaisVontades esclarecidas compreendem o entendimento da prioridade da Paz por respeito ao Valor da Vida.  A percepção dos inter-relacionamentos dos conflitos pode facilitar evoluções culturais.  As soluções se configuram através de visões ampliadas.  Segue uma lista dos conflitos que hoje são noticiados:

  1.   Eventual confederação com Jordânia, Líbano, Estado da Palestina, ….? com um modelo semelhante ao da União Europeia.  Interesses comuns por águas e desenvolvimento econômico e social.
  2. Uma acomodação de divergências exaltadas entre variantes do Islamismo poderá reduzir a confrontação da Arábia Saudita com o Irã.  O interesse natural do Irã é desenvolver o próprio país.  Recentemente aceitou o controle externo de suas atividades na tecnologia nuclear.                                                                                       3.  Aceitação de um país / pátria curdo por Turquia, Irã, Irak e Síria.                  Configuração de uma – ou mais de uma – confederação de países de              cultura islâmica, nos territórios do Irak, da Síria, da Arábia Saudita e dos Principados do Golfo Pérsico – e/com Curdistão.                                            4. Aceitação do direito da autodeterminação dos povos no território da Rússia.  Configuração de uma confederação segundo o modelo da EU?                                   5.  Acomodação da disputa pela Kashemira entre Índia e Paquistão.                       6.  Reconhecimento da independência do Taiwan pela China.  Formação de uma confederação?                                                                                                                        7.  Apoio ao desenvolvimento econômico e social dos países do Norte da África com vínculos à economia da União Europeia.  O fornecimento de energia por fontes alternativas e implantação de indústrias oferecem possibilidades, além do turismo.                                                                                                                                   8.  Integração da Turquia na EU.  Há afinidades históricas, não representando a religião um impedimento.  Muitos turcos e descendentes de imigrantes turcos aculturados trabalham na Alemanha.  A Turquia está recebendo um número extremamente grande de refugiados para a Europa.                                                    9.  Coréia do Norte.  O governo déspota exacerbado, detentor de armas nucleares, precisa ser substituído.  Uma solução imaginária seria a intervenção da China e posterior reintegração com a Coréia do Sul.  A queda por implosão é hoje considerada improvável.  Haveria de acontecer uma sublevação militar.   10. Afeganistão: Região muito pobre.  Afinidades com Irã e Paquistão.  A pacificação regional requer a elevação do nível de vida no conjunto desses países.

Nesta cena se considera que a China não é um país potencialmente agressor.  A China realizou e continua promovendo um inédito projeto de resgate de pobreza de sua população, inicialmente preponderantemente rural.  Atualmente é o maior exportador industrial e o maior importador de matérias primas e alimentos.  Desenvolve o maior projeto de redução de emissões de gases de efeito estufa promovendo a geração eólica, solar e nuclear, além de reflorestamentos extensos.  Começou a desativar minas de carvão.  Entende-se que o governo da China, um tipo de regime autoritário esclarecido, conhece a dependência da inserção na economia global para a realização das metas do desenvolvimento social.  Com esta perspectiva assumiria posições de colaboração numa política global para a Paz.  Assim procedendo estaria em sintonia com a tradição Sun Tzu.

 

Desenvolvimento de uma Cultura da Paz na Situação Sustentável.

Quando o processo do Desenvolvimento Sustentável alcançar a sua Meta, a Situação Sustentável, deverá se ter configurado a Cultura Sustentável, da qual a Cultura da Paz na Situação Sustentável é parte.  Seria a cultura da Paz Eterna conforme Kant.  Não ocorreriam agressões, nem mesmo agressões preventivas, conforme Sun Tzu.

Acima se constatou que todos os conflitos atuais podem ser acomodados, desde que haja “Vontades”.  Certamente uma “Doutrina para a Paz” poderia orientar as discussões e decisões.  Algum texto neste sentido já deve existir na Organização das Nações Unidas.  Uma questão, aqui não verificada, é se os textos existentes estão focalizados na VIDA como valor supremo.  Tratar-se-ia de uma Responsabilidade, segundo Kant, e uma aplicação do Imperativo Categórico.  Seria uma Visão globalizada, mesmo para a solução de conflitos localizados.  O texto da Doutrina para a Paz conteria, para verificação e orientação, uma listagem das premissas identificadas ao longo da história.

Acontece, que cada nova geração terá de ser “aculturada”.  No desempenho desta tarefa reside a importância da educação para a formação de Cidadãos por Responsabilidade.  Ao retomar assim o posicionamento que remonta a Platão e Aristóteles, há de se considerar que hoje a educação à Cidadania – felizmente – não se limita mais a um pequeno contingente de nobres e burgueses em cada sociedade.  Deve alcançar a todos participantes do ensino básico, ou seja, idealmente a todos os cidadãos.  Embora a decisão de atuar com responsabilidade esteja no âmbito de liberdade da cada um, mediante a educação estar-se-ia otimizando a probabilidade de que sempre haverá um contingente forte nas sociedades para mobilizações contra a vulnerabilidade a populismos e subverão das democracias a regimes despóticos.  E também para desempenhar as demais Responsabilidades pelo Desenvolvimento Sustentável.

Observação final.

As condicionantes da conclusão de Kant pela esperança de “uma possível aproximação do estado pacífico” se materializaram na configuração da federação da União Europeia.  E nas circunstâncias presentes a sociedade global percebe que a conservação de condições para a sobrevivência das espécies requer contribuições de todas as partes.  Passa a existir uma Meta Comum para todas as sociedades – países.  Tal Meta – a realização da Situação Sustentável – não existia na época do iluminismo, dois séculos antes.  E também não existia um contingente de cidadãos preparados, dos quais uma parcela se destaca como Cidadãos por Responsabilidade, que são os empenhados pelas sociedades e pelo Desenvolvimento Sustentável.

Portanto é pertinente afirmar que a esperança de uma Paz Eterna, que Kant fundamentou na razão, e que seria a Paz na Situação Sustentável, está reforçada.

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